quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O beijo do Anjo da Morte


O caminho é longo,
com um solo seco como ossos de um antigo cadáver putrefacto,
deixado a apodrecer sem qualquer dignidade.

Uma pedra bloqueia o meu caminho,
Vestígios de sangue nela encontro,
Questionando-me sobre a segurança
De tão inóspito local.

Procuro voltar atrás,
Mas a estrada não tem retorno,
Ordenando-me que continue
Uma possível perigosa caminhada.

Ouço os ramos das árvores podres a ranger,
Sinto o característico cheiro a morte a aproximar-se
Com o estreitamento do cadáver seco.

A terra foge por debaixo dos meus pés,

Como uma serpente venenosa que procura escapulir-se
Da inexistente presa natural.

Caio de costas, batendo com a cabeça
Num pequeno montículo de algo que nem consigo descrever.
Sou arrastado com força, mas faltam-me as forças
Para olhar para a frente.

A Dor é lancinante,
Mil facas de gelo a entrar pela minha carne
Que sangra abundantemente,
Alimentando o ressequido caminho
Que fica para trás.

Perco os sentidos.

Acordo horas depois rodeado de esbeltas luzes,
Sentindo de súbito um ar fresco mas aconchegante.

Reganho forças,
Nem reparo que a respiração deixou de ser um acto obrigatório.
Olho para cima, vejo um bonito Anjo vestido de preto,
Com longos cabelos escuros e olhos tão brilhantes
Como a mais sombria das Noites.

Agarra-me pela mão, beija-me na face
E simplesmente leva-me para o outro lado.
Não são precisas palavras para entender toda esta
multitude de sensações.
Adeus doce Mundo.

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