terça-feira, 29 de março de 2011

Purgatório anunciado

Execrável imagem,
Vulto desfigurado
Surge no horizonte,
Cambaleando.

Vermes cobre o chão em redor
De recluso do entre-vida,
Atroz odor,
Doce travo de decomposição,
Tão repulsivo que se torna
Visível ao olho do mais incauto.

Vingativa,
Lua nossa olha de soslaio
Para futuro defunto,
Preso num cenário pós-apocalíptico
Nos confins de uma selva urbana.

Outrora gloriosas,
Árvores juntas a passeios são meros
Aglomerados de podridão,
Musgo seco como o Sol de Verão
Cobre o remanescente de caules
Inquietos.

O Vento abana pequenas rosas ali perdidas,
Frescas e suculentas,
Destoando o local de sepultura citadina.

Carros,
Onde estão eles?
Carcaças enferrujadas,
Esbatidas pelas cores do tempo
Que não pára nem perdoa.

Parceiro decadente cada vez mais próximo,
Funeral anunciado no local
Onde se encontra destruída tampa de esgoto,
Cheiro libertado sempre melhor que do
Quase defunto.

Embrenhado pela escuridão adormece
Personagem,
Purgatório aguarda para saldar dívidas
Deixadas naquele local
A que chamaram Terra.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Considerações perturbadas

I - Génesis

(...)

Supressão do início.

Anos passaram,
Amizade escondida num heterónimo
Ainda não criado,
Simetria de cérebros
Que pairam em conjunto
Raciocinando em separado.

II - Descoberta do incrível

Quem dita as regras,
Constantes temporais
E inconstantes milagrosas.

Dói querer saber,
Será a nossa maior oferenda
O meu maior pesadelo?

Racionalização,
Refracção de pensamentos
Pudicos com letras à mistura.

Amigo,
Podias ser maior que o pensamento!

Mais um segundo passado,
Ainda não compreendo a existência do Mundo,
Porque somos moléculas insignificantes
Neste contexto estelar?

Dói querer descobrir,
Será a minha vontade
O nosso maior pesadelo?

III - Conformidade (Sinapses parte III)

Onde andas meu caro?
Os minutos passam vagarosamente.

Adormecido,
Olho-me, sisudo, sem compreender
Este estatuto de conformismo sedentário
A que me remeti,
Sou apenas mais um grão de areia
No meio de extensa praia deserta.

Onde andas meu caro?
Sinapses já não funcionam,
Já não me sinto mais um semi-deus
Possuído pela electricidade do descobrimento
Empírico.

IV - Fim

Prestes a entrar no caixão vejo o perdido,
Doeu pensar,
Doeu racionalizar,
Tudo em vão.

Sensações perdidas nas penosas horas que me restam,
Arrependimentos de ser como sou,
Imutável face à mudança,
Perdi a relação de semelhança entre dois hemisférios
Que já não se cruzam.

Não há partilha,
Não há vontade,
Onde foi a fraternidade
Sensorial de um relâmpago
Que partiu tão depressa
Como chegou?

Não vivi, apenas deambulei,
Divaguei pelo pensamento
Esquecendo o importante,
O momento.

(...)

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sinfonia de fragrâncias


Sombra vagueia,
Mais uma alma perdida
No meio de tantas outras,
Grandiosos espectros
Perdidos na continuidade
De incessante trilho.

O frio que congela gelo
Sente-se à distância de mil sóis,
Calor gelado que queima
Sem descontinuidade,
Harmonia dos demónios.

Propagam-se gritos sinfónicos
De ajuda universal,
Despertam-se ossadas até então
Resguardadas por suave cobertor
De folhas deslavadas.

Arrepio na espinha dorsal
De mais um cadáver,
História infeliz de infeliz ser
Que se perdeu nos confins
De mais uma droga comum, a vida.

Espalha-se o cheiro,
Horripilante fragrância
Que atrai doces abutres
Para mais um festim
À luz de um sol escondido.

Sente-se a profundidade,
Os ouvidos estalam com a pressão
Incógnita da psicologia Humana,
Sente-se o erotismo
Da foice que se aproxima lentamente.

Cada passo dado,
Cada passo a menos.

terça-feira, 15 de março de 2011

Direito de escolha


Pedra,
Dureza sensitiva
Procurando concretizar o seu sonho
De felicidade
Não permitida.

A escolha,
Essa perdeu-se
Nos afluentes de um rio
Vazio,
Esquecido.

Maus agoiros,
Fugiste a sete pés
Do desafio supremo
Imposto por dois caminhos distintos,
Liberdade de escolha.

Ilusão,
Na areia perdeste
Toda a tua essência
E vitalidade,
És um mero fóssil deambulante.

sábado, 5 de março de 2011

Som do silêncio


Ouve o som do silêncio,
Eco do vazio
Nas paredes trespassáveis
De tal casa sem alicerces.

O mundo colapsa
Sobre três saudáveis cravos,
Liberdade perdida
Nos queimados prados
De terra esquecida.

Escuridão,
Essa apodera-se da matéria
Num estrondo brutal,
Qual montanha a cair
Sobre ex-terra mortal.

Ouve o silêncio do som,
Matéria sobre material
Num local sem compaixão,
Onde a própria existência
É casual,
Desigual.

Opressão,
Repreensão do oprimido.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Eterna Busca pela liberdade


Servir o abstracto,
Onde param os criados
Da matéria flutuante
Da aura deambulante?

Matéria gera dor,
Pensamento gera dor,
Irracionalidade gera dor,
Desespero pela dor
Que finalmente entenda.

Caminho, cego dos meus objectivos
Primários,
Procurando celeridade no processo
Evolutivo
De uma mente aberta, desperta.

Onde estão os criados?
Sou mero fantoche das linhas
Do destino,
Infinita racionalização apoquenta-me,
Quem me liberta?

Porque não nasci como o vento?

Livre arbítrio é ilusório,
Destinos comandados pelo superior,
Ele faz de Nós Seus Criados,
Esses que procuramos.

Será eterna a busca por nós mesmos?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Questões cósmicas

Onde te posso encontrar?
Mar de estrelas tolda a visão,
Desnorteia os sentidos.

Infinito incerto,
Que segredos escondes
Com essa tua capa
Monocromática?

Porque escondes a tua verdadeira cor?

Discípulo do descobrimento,
Quem desbloqueará a tua história?
O oculto atrai a mente,
Descoberta leva a mais dúvida.

Porque nos iludes?
Será essa a questão a ser feita?

Novo plano

Vagueio,
Gostaria de sentir um espírito
Audaz,
Fazer análise mordaz
Da sua existência psíquica.

Compactuo com a sombra
De uma nua árvore,
Entranhas podres
Desprovidas de alma
Que as salve.

Onde assino passagem para
Um novo plano?
Existência questiono todo dia,
Será esta realidade apenas
O inferno que prepara para
Eterno descanso?

Estarei a racionalizar o inexistente?
Leve conjectura que me prende
Numa redundância crescente,
Sem saída aparente.

Impulsos eléctricos,
Gostaria de acreditar.