quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Momento fotográfico


A imagem trespassa a lente
E fica gravada num rolo escuro
De cores invertidas.

O momento,
Congelado no tempo,
Guardado numa impressão
Simples e num negativo
Comprovativo.

Posso eliminar o capturado
Fisicamente,
Mas a memória pessoal
Perdura,
Desejo-te amnésia selectiva!

Como esquecer todas
Aquelas
Fotografias
Tiradas
Ao longo do tempo?

Amnésia selectiva,
Desejo-te!

Ode aos sentidos
Em hiperactividade,
Estou desperto na minha
Ingenuidade inexistente,
Irei viver intensamente
Sem fotografia que me acompanhe,
Longe da indiscreta lente
Que tira fotos
a um ser que rapidamente se torna demente!
Irei ser independente!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Viagem

Viagem,
O destino é um e um só,
Não pretendo levar amizades
Para conferências à chuva
Sobre momentos passados,
Pretendo embarcar sem rumo ou destino
Conhecido,
Explorar novos velhos locais,
Onde apenas a cor muda,
Onde o olhar é um novo.

Passam os verdejantes pastos,
Fica para trás a pobreza cinzenta da cidade
E de (quase) todos as que acompanham.

Abstraio-me do presente,
O mundo encontra-se ausente,
Demente,
Não havendo som estridente
Que quebre a corrente
Do vento,
Esse mesmo,
Que nunca mente.

Desembarco no destino,
A ultima ceia da semana foi do meu agrado.

Abro os olhos,
Imediatamente preenchidos pelo intenso
Brilho de uma estranha clareza mental.

Esmorece o brilho,
Consigo finalmente captar os sons
Do paraíso,
Sou inundado por esperança
E ganho força e segurança
Para novidade.

Sentirei falta de ti,
Passado,
Mas o
Futuro está
Presente para me guiar
Pelos caminhos de luz,
Verdejantes e irracionais,
Felizes!

"Carpe diem quam minimum credula postero
Aproveita o momento confiando o menos possível no amanhã"

sábado, 18 de dezembro de 2010

Candlemass - Solitude



Por isto é que amo doom metal... Trás sempre as emoções à superfície.

(Com) Sem Rumo

Presença,
Procuro nos caminhos sinuosos
Um local de repouso
Para me reencontrar com a imaginação.

Rumo perdido,
O comboio descarrilou
Com um estrondoso som,
Qual metal a embater com pedra,
Tornando-se retorcido.

Gostava de te ter a meu lado
Nos bons e maus momentos,
Reencontrar o caminho
E comprar novo bilhete para uma viagem
Que poderá ainda ir a meio.

Gostava de poder contar com
A tua presença brilhante,
O teu espírito que ilumina
A escuridão
Do meu coração
E me torna de novo numa criança,
Alegre por descer o seu primeiro
Corrimão sem ter medo de se magoar.

O terreno sinuoso interpõe-se
Entre duas viv'almas afastadas,
O poder de duas pessoas
Poderá suplantar as altas falésias
De crenças desgastadas.

A força de vontade é a chave
Para a felicidade.

Por vezes sinto-me um peixe,
A memória é longa mas o sentimento
Renova-se em períodos curtos.

Quero transpor a barreira,
Quero continuar a percorrer a escuridão
Com o simples poder da tua luz,
Quero ser uno e não duo,
Quero simplesmente a tua palavra...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sinapses (alguma parte delas)

Pensa!

Não penses!

Não penses em pensar!

Relegado para segundo plano
Está o nosso amigo cérebro.
Sinapses, um ressurgimento da veia
Pensativa do pensador.

A energia do pensamento,
O pensamento energético,
Não penses por pensar,
Deixa que o não-pensar te guie ao infinito,
Às nuvens da não racionalidade.

Para trás fica a química,
A electricidade,
Cérebro morto de tanto funcionar!

Olá, olá!
Que bons dias o vejam!
Vejo que continua no bom caminho para ser
Um lunático de sucesso!
Vai uma racionalização?
Ou não gosta desse prato?

Ainda estás a pensar?
Lobotomia dos sentidos é o que estás
A precisar!
Vem! Junta-te a mim nesta viagem!
Psicadélico? Efeito de drogas? Mata o cérebro!
Quero a química morta,
Quero interromper a tua corrente!
Senta-te nesta humilde cadeira,
Provocar-te-ei um curto-circuito!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sinapses

Energia eléctrica,
Sinto-me electrocutado de tanto pensar,
Dói-me o cérebro de racionalizar,
Demasiada energia para conseguir canalizar.

Sinapses disparam em uníssono,
Sinto-me atacado pela minha própria química!

Perco controlo das funções básicas,
Sinto-me impelido para um chão sem chão,
Uma profundidade não profunda,
Um sim significado de não,
Tanto pensar,
Tanto racionalizar,
Estou a enlouquecer,
Estou a perder
O controlo!

Escrevo sem sentido,
Procuro sentido para o sentido
E significado para o significado,
Quero descrever o nada mas faltam-me palavras,
Demasiadas palavras,
Demasiada diversidade,
Demasiados teoremas, problemas!

Onde está o céu neste quarto fechado?
Porque me sinto enjoado?
Sinapses, Ó sinapses,
Não percam as estribeiras neste momento
Malogrado,
É demasiado!

Zeus, onde estás!
Tenho mais energia que tu!
Sinto-me nuclear,
Vou rebentar
De tanto pensar!
Química, equilibra-te!
Quero sentir-me jovial,
Original
Sem ser trivial!
Quero ser desigual!

Chuva,
Trovões e relâmpagos!
Sinto-me mais poderoso que a humanidade!
Sou uma central eléctrica em pleno funcionamento!
Quem quer energia?!

Química!
Sinapses!
Electricidade!
Um bolo com todos os ingredientes para o desastre!
Pum!

Queimei...
Subitamente terminou a energia...
Sinto-me apenas mais um vulgar espécimen...
Estou lento... Ultrapassado... Nada de nada sai daqui...
Perdi-me...
Quero reencontrar-me...

Electricidade...
Sinapses...
Química...

Porque me abandonaram?

Palavras marcam passado

Vejo-te sem te ver,
Sinto-te sem te sentir,
Olho-te imaginando-te.

Um último adeus eu te peço,
Não podes partir sem mo dar!

Quero que me olhes de novo,
Quero que me sintas de novo,
Quero que me vejas de novo!
Quero, quero, quero, quero!
Repito que quero, quero, quero,
Deixando um último de fora,
Não demonstrando a falta que me fazes.

As linhas por nós escritas não foram apagadas,
Apenas se encontram algures perdidas no tempo,
Espalhadas pelo vento.

Vamos reanimá-las?

Quero encontrar
De novo espaço para voar,
Perder-me na cumplicidade de um olhar,
Procurar
Contigo as palavras espalhadas pelo vento,
Perdidas no tempo.

Queres reencontrá-las?

Curta-metragem

Fim,
Parece estar concluída mais uma obra-prima.

Que somos nós senão curtas-metragens?
A contagem decrescente para o final
Tomada como não garantida,
Uma pseudo-fachada de um pseudónimo de nós mesmos,
Simples forma de ignorar que o fim se aproxima
A cada segundo que passa.

Depressivo,
Não penso na graciosidade da vida,
Na sua potencialidade infinita.

Procuro simplesmente um refugio na racionalidade,
Sou um ser racional e tudo será e é cautelosamente calculado.

Chamo-me calculista,
Deixando de parte o frio de um corpo que se avizinha putrefacto
Num mero buraco
Num chão qualquer.

Sofro,
Procuro adjectivos para descrever a dor que por vezes sinto,
Lamento sentir,
Quero sentir,
Gosto de sentir
Sem gostar de sentir.

Procuro simplesmente um refugio na racionalidade,
Sou um ser racional e por vezes redundante,
Sem ser redundante
Gosto de ser redundante,
Quero ser redundante,
Lamento ser redundante,
Procuro palavras para descrever esta redundância redundante
Que me rodeia.

Dor,
Dor de sentir,
Gosto de sentir dor,
Dor associada ao sofrimento,
Dor até cair num buraco num chão qualquer,
Um buraco redundante, igual a todos os outros.

Deixa-me dor,
Aproxima-te dor,
Termina esta curta-metragem,
Não aceites repetições,
Passa-as apenas num breve jantar de amigos.

5... 4... 3... 2... 1...
Fim.